Com a preparação deste livro, Kardec considerou o Instruções Práticas superado. Seu desejo era que os espíritas estudassem mais a fundo o problema mediúnico, não ficando apenas nas informações iniciais daquele pequeno volume. Entretanto, 65 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, que então presidia a Casa dos Espíritas, em Paris, achou conveniente lançar nova edição do Instruções Práticas. Essa edição despertou, no Brasil, o interesse de Cairbar Schutel, que depois dos necessários entendimentos com Meyer lançou entre nós, pela sua modesta e heróica editora de Matão, Estado de São Paulo, a primeira tradução brasileira da obra. Nova edição foi lançada em 1968 pela Casa Editora O Clarim, a mesma de Schutel, como parte das comemorações do primeiro centenário do nascimento de seu fundador. Instruções Práticas se impôs novamente ao meio espírita como um livro necessário, em virtude do seu caráter de síntese.
Apresentado por Kardec como continuação de O Livro dos Espíritos, este livro foi também considerado por ele como em grande parte obra deles, o que se pode verificar na Introdução. Os Espíritos o reviram, modificaram, acrescentando-lhe um número muito grande de observações e instruções do mais alto interesse. É o segundo volume da Codificação do Espiritismo e, como assinala Kardec, desenvolve a parte prática da doutrina. Por isso mesmo é o livro básico da Ciência Espírita, um tratado de mediunidade indispensável a todos os que se interessam pela boa realização de trabalhos mediúnicos e pelo desenvolvimento das pesquisas espíritas.
A tese fundamental deste livro é a existência do perispírito ou corpo energético dos Espíritos, elemento de ligação do espírito ao corpo material. Essa ligação, de tipo energético ou vibratório, é o princípio da mediunidade. Assim como o nosso espírito anima o nosso corpo através do perispírito, constituído em vida o que chamamos alma, os demais Espíritos, de mortos ou de vivos, podem influenciá-lo. Em sintonia com o nosso espírito podem mesmo utilizar-se de nosso corpo para as suas manifestações. Dessa maneira, a mediunidade é uma condição natural do homem, uma faculdade geral da espécie humana, que se revela em dois campos paralelos de fenômenos: os anímicos, decorrentes das atividades do nosso próprio espírito fora do condicionamento orgânico; e os espíritas, decorrentes das relações naturais do nosso espírito com outros Espíritos.
(José Herculano Pires, na introdução de O Livro dos Médiuns, edições Lake).
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